Óleo sobre tela. Lourdes A. Fascio
I
Tem sido assim,
desde os remotos tempos de infância.
Costumavam brincar comigo,
como avós brincam com netos pequenos.
Serenos e vigilantes, eram
apenas diáfanas figuras que nunca toquei.
Velavam por mim, protocolares e eficientes,
guardando-me dos perigos e quedas...
II
Afastaram-se na adolescência,
deixando-me seguir todos os caminhos.
E tive medos e audácias... e cresci.
Vez que outra, apareciam, de relance:
no funeral de meu pai,
no discurso de formatura,
entre os padrinhos, no casamento,
no nascimento dos filhos,
na solidão das UTIs...
III
Agora, depois de tantos anos,
de minha cadeira de balanço,
mirando ao longe as montanhas do Poente,
volto a vê-los com ternura
nas tardes frias e cinzentas deste inverno.
Sigo-os com os olhos envelhecidos
por longas distâncias no horizonte.
Como antigamente,
fascinam-me ainda em seu caminhar compassado,
esquálidos espectros, sorumbáticos e silentes.
Retirantes de mim,
em eterno êxodo para insondáveis umbrais...
antoniocarloscavalli
janeiro/2004
Jabs
ResponderExcluirÉ muito bom poder partilhar da sua fina inspiração. Ao longo do tempo pensava que a gente tinha o tempo, mas é o tempo que tem a gente.
Galvão