domingo, 18 de outubro de 2009

Uma viagem inesperada

Mapa de Moçambique

Devido a necessidades profissionais, fiz uma viagem relâmpago a Maputo, capital de Moçambique, na última semana de setembro.

Situado na região sudeste da África Austral, com 800.000 km2 , 20 milhões de habitantes e banhado pelo Oceano Índico, Moçambique é um país muito pobre, colonizado pelos portugueses, livre a partir de 1975 e cheio de problemas. Pra se ter uma idéia, dentre os países do mundo avaliados pela ONU, o país ocupa o 172° lugar, do total de 182 países listados no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Ou seja, só há dez países em pior situação no mundo.

O “Plano de Acção para a Produção de Alimentos- 2008-2011”, do Governo informa que:

“Cerca de 70% da população Moçambicana vive nas zonas rurais e pratica a agricultura como sua principal fonte de obtenção de renda. A produção agrária é desenvolvida maioritariamente pelo sector familiar, que ocupa mais de 97% dos 5 milhões de hectares actualmente cultivados. A agricultura em Moçambique ainda é caracterizada por baixo nível de utilização de tecnologias melhoradas. Com efeito, apenas 5% dos produtores, dos 3.3 milhões de explorações agrícolas existentes no País, usa sementes melhoradas e fertilizantes. O nível de utilização de tracção animal situa-se à volta de 12%”.

Do pouco que conheci, pude constatar que falam um português agradável, mais brando que os lusos de Portugal, com um “cantado” típico, muito fácil de entender, a não ser quando falam entre si, em dialetos. Aí, não dá mesmo. Aprendi duas palavras nativas, pelo menos: Kanimanbo (Obrigado) e capulanas (as saias coloridas que as mulheres usam) e que precisei aprender para trazer de lembrança pra Irene. Na verdade, as duas palavras me soaram muito familiares, parecendo as palavras dos rituais de candomblé da Bahia.

É um povo simpático, alegre e as pessoas abrem um sorriso amplo quando nos identificamos como brasileiros. É uma empatia à primeira vista. De irmãos que se encontram.

É alentador ver que estão procurando melhorar o nível do povo e fazê-los sair desse perverso ciclo de pobreza. Espero poder voltar lá, por conta do trabalho de Zoneamento a fazer.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Israel para sempre

A placidez da praça da Sinagoga do kibutz Sde Eliyahu (Foto do autor, 07-2009)

Israel era um país distante, no meio do deserto, habitado por um povo pouco simpático, com uma fama não muito favorável, sempre em guerra com os vizinhos árabes. É mais ou menos assim que pensam muitos brasileiros, entre os quais nos incluíamos. Tempos atrás, cheguei a desdenhar a oferta de inscrição para um estágio em agronomia oferecido para pesquisadores do IAC, por pura ignorância e um quê de preconceito sobre um povo que eu não conhecia. Na verdade, é sempre assim, o preconceito se fundamenta na ignorância, nunca no conhecimento.

Eis que um dia nosso filho mais novo nos informa que está freqüentando as sinagogas e os cursos de conversão para o judaísmo em São Paulo. Ficamos pasmos com tal atitude, relutamos bastante em aceitar, mas era uma decisão sua e a respeitamos. Passamos a tentar entender, mais do que rejeitar, e hoje descobrimos quão sábio foi esse comportamento.
Acabou que ele se converteu mesmo e, um ano depois, conseguiu vir para Israel fazer “Aliah”, um programa da Agência Judaica que promove o retorno dos judeus para Israel. Ele já está aqui há dois anos e meio, como cidadão israelense e seus planos futuros estão todos aqui.

Por conta disso, Israel passou a ser, também para nós, uma pátria distante: a segunda pátria do nosso filho. Começamos a nos interessar por ela, a tentar entender a problemática judaica e fomos descobrindo os esforços hercúleos desse povo que construiu e mantém, a duras penas, um país maravilhoso.

E agora estamos aqui, pela primeira vez, em Israel, visitando o filho e convivendo com os israelenses. Uma experiência fascinante, de onde não voltaremos iguais, mas melhores, mais conscientes da realidade desse país espetacular.
Temos muito que dizer. Por ora, apenas que queremos voltar mais vezes, visitar mais lugares, conhecer mais a história de uma terra abençoada por três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Aqui se respira a história milenar junto com a mais moderna tecnologia.
E não há fumaça no ar.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Uma homenagem

Miguel Sendin

Conheço "Seo" Miguel há muito anos. Figura sempre simpática, inteligente, culto, gostava de conversar com os amigos de seu filho, Paulo, meu contemporâneo de ESALQ e colega de trabalho no Planasucar. Hoje, com 94 anos de idade, ainda mantém a veia poética que sempre o acompanhou vida afora. 
Como uma singela homenagem, divulgo aqui uma de suas poesias, publicada no Jornal de Piracicaba:

Olhando estrelas
O homem procura
A paz neste mundo.
Mas ela não dura 
Sequer um segundo.

Cabeça pendida,
Os olhos no chão,
Só tira da vida
A desilusão.

Se erguesse o nariz,
Olhando sem véu,
Veria feliz
Estrelas no céu.

No vasto infinito
Do mundo esquecido
Às vezes eu fito
Um lar mui querido.

Me dizem os sábios:
— Tu és um insano.
Pueris são os lábios
Do gênero humano

Que importam os motes
Que ouço ao meu lado,
Se vejo os archotes
No céu estrelado?

 Miguel Melchiades Sendin já foi vendedor de livros e faz poesias desde 1946. Ativo e interessado, gosta de ler e participar de concursos de poesias tendo sido selecionado em vários deles. Em 2004 editou o livro solo, de poesias, “Por puro prazer”.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O milagre da criação

Gustavo Gonçalves Cavalli

Ninguém discorda que o nascimento de uma nova vida é o evento mais belo da Natureza, por representar a continuidade das espécies sobre a Terra. Um novo ser, com todas as características de seus antecessores, desmembra-se da genitora e encara o mundo com a força e a coragem dos grandes guerreiros. Se, por um lado, o filhote venha à luz com enormes fragilidades, por outro, ele vem dotado de resistências incríveis, de programações vitais extremamente complexas em sua carga genética, que lhe propiciam as condições necessárias para a sua sobrevivência e desenvolvimento em ambientes altamente hostis. Com os cuidados e proteção adequados dispensados pelos pais e membros do seu grupo, ele  se desenvolve e dá continuidade à sua espécie, cumprindo a missão evolutiva determinada nos códigos de seu DNA.

De modo bastante abrangente, isso pode ser dito para todas as espécies animais do planeta, mas o nascimento de um novo ser se reveste de especial importância quando ocorre entre os humanos, por motivos óbvios: diz respeito à nossa espécie.

O neonato trás uma onda de felicidade que envolve todos os membros do clã, pela preciosidade que representa. Em todas as culturas e religiões, ele é considerado benção divina, milagre, manifestação superior, explosão de vida. E não é para menos. Ele traz um novo alento, renova esperanças, revalida promessas, carrega consigo uma grande carga de felicidade, espargindo-a sobre todos os que o rodeiam.

 Pois, eis que nossa família foi agraciada com uma bênção especial: nasceu Gustavo, nosso primeiro neto.  Ele vem renovar a imensa alegria que sentimos com o nascimento dos nossos filhos, tempos atrás. Difícil descrever essa sensação sem ser piegas, mas a melhor definição que ouvi para a condição de avós foi da Marieta Severo: “a gente passa a viver num constante estado de bobeira”.  Estamos entendendo exatamente o que isso significa. E, segundo os amigos que já são avós há mais tempo, esse “estado” não passa nunca, o que é muito gratificante, pois significa uma condição de felicidade imorredoura.

Embora as perspectivas para o futuro nesse começo de século não sejam as mais animadoras, cultivamos a esperança que a vida do nosso neto seja feliz e ele possa fazer parte da geração que vai mudar essa insânia em que vivemos.

 Tudo leva a crer que estou certo. Consultando os oráculos, fui informado que ele é do signo de Áries e recebi auspiciosas revelações sobre sua personalidade:

Militante, obstinado, corajoso e ambicioso, o ariano é rápido, dinâmico e entusiasmado. É um líder natural e nunca do tipo que segue simplesmente, por isso se sai bem em cargos de liderança e quando é preciso ter autoridade;

O ariano é direto e competitivo quase nunca usando de subterfúgios ou agindo de forma oculta ou misteriosa. É cheio de entusiasmo porque gosta de estar vivo e precisa sempre ter um desafio para se sentir vivo, sendo por isso que está sempre à procura de novas aventuras e novas metas a alcançar;

Seus padrões de raciocínio são apaixonados, rápidos e instintivos fazendo com que mostre compreensão rápida. Sua mente é ágil, dinâmica e impaciente com relação a detalhes e atrasos pertinentes a todo processo de aprendizagem”.

 Então é isso, temos um ariano na área para alegria, felicidade e "babação" geral. Como prevíamos, é um menino lindo. A vida sorriu pra nós. O clã está em festas. Deo gratias.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cá como lá...

Os boatos (hoaxes, em inglês) espalhados pela Internet, são uma praga vicejante e recorrente que causa insegurança nas pessoas e prejuízos aos envolvidos. Na melhor das hipóteses, trata-se de brincadeira de mau gosto, disseminando informações falsas e maliciosas.

Não faz muito tempo, andou passando pelas nossas caixas postais um desses boatos alarmistas sobre o pátio de uma suposta montadora de veículos no país, com fotos de recém construídos modelos semi-submersos numa enchente. Em letras garrafais e vermelhas, o texto especificava uma montadora e “alertava” para o perigo de se adquirir veículos novos daquela marca, pois estariam irremediavelmente avariados e maquiados, com o intuito precípuo de “enganar” os consumidores.


A enchente de lá (autor desconhecido)

Uma perícia informal sobre as fotos apresentadas permitiu verificar que os modelos não eram fabricados no Brasil; que o entorno do pátio tinha características estrangeiras e que a foto foi maquiada. Ou seja, era uma informação inverídica e de má-fé: não se tratava de enchente brasileira!

Pois se a vida imita a arte, a verdade imitou o boato.

Não é que as águas de março, já fechando o verão, trouxeram uma imagem de situação semelhante, agora ocorrida de fato “neste país” e logo ali, à margem da Rodovia Anchieta, coincidentemente no pátio da montadora citada no boato?

Os helicópteros de todas as emissoras de TV sobrevoaram a cena de quatro centenas de modelos saídos da linha de montagem, enfileirados no pátio da montadora, afogados pela tempestade diluviana do dia 17 de março na Grande São Paulo.


A enchente de cá (Rede Globo, 17/03/09)

Face à repercussão negativa, o porta-voz da referida montadora apressou-se a acalmar seus clientes, afirmando que eles não correrão nenhum risco de perder o “cheirinho de novo” de seus futuros veículos, pois que os “afogados” seriam devidamente descartados. Meno male...

Então, fica o consolo de saber que estamos todos irreversivelmente globalizados mesmo, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, no boato e no fato, na seca e na enchente...... mundinho pequeno...


quarta-feira, 18 de março de 2009

Um e-mail para Gustavo


Vendedor de balões (Irene - 03/09)

Meu querido:

Estamos todos no aguardo de sua chegada. Temos visto suas fotos ecográficas e o achamos muito lindo. Na verdade, o mais lindo de todos J

Sua mãe tem nos contado de suas “andanças” em seu útero e seu pai está muito orgulhoso do primogênito. Ambos têm grandes planos pra você. E um amor infinito pra lhe dedicar.

Seu quarto já está pronto, preparado com muito carinho; os parentes e amigos já lhe deram muitos presentes. Estamos todos interessados em facilitar a sua vida quando passar para o lado de cá. No que depender de nós, sua vidinha vai fluir com tranqüilidade, saúde e alegria.

Venha sem medo, prepare-se bem, física e espiritualmente. Do nosso lado, todos os procedimentos estão sendo tomados para que sua “aterrissagem” se dê suavemente, sem nenhuma turbulência.

Você é nossa esperança de ajudar o mundo a seguir melhores e menos insanos caminhos.

Bem, eu teria muitas coisas pra lhe dizer, mas acho que vou esperar você chegar primeiro.

Sua avó só fala em você, lhe manda um grande beijo e um desenho para enfeitar o seu quartinho.

Todo o meu afeto e até breve, Gustavo.

Do avô

Antonio Carlos

terça-feira, 10 de março de 2009

Um pássaro muito especial

No céu das Américas. (Foto S. Sakall - 08/2005)

Eis um pássaro maravilhoso, conhecido por Jaburu ou Tuiuiú, dentre os nomes mais comuns.  Certamente, para meus possíveis leitores, ele não é de todo estranho.

O Jaburu é o maior pássaro do Brasil. Suas asas abertas têm quase três metros, de uma ponta a outra. Nada mal, poucas aves no mundo têm essa envergadura. Ele é uma ave pernalta, parente da cegonha, mas não trabalha na profissão da prima. Prefere filosofar.

É um magrelo por natureza, mas, com suas grandes asas, é capaz de voar por todo o continente, do México até a Argentina. Um cucaracha terceiro-mundista por excelência.

Gosta de ficar perto da água, em rios, lagos e pântanos. Nesses lugares, anda devagar, devagarinho, como diz a música.  Não sendo nada bobo, prefere a água rasa, procurando os bichos que come. Dono de um apetite enorme come peixes, caranguejos, sapos, lagartos e até cobras e ratos. Não se pode dizer que seja um gourmet muito refinado, pelo menos para os padrões ocidentais, mas o que você quer, nos pântanos não tem champignon. E quem não engole um sapo de vez em quando?

Dizem que é desajeitado ao andar, o que é uma grande injustiça, pois ele apenas é cauteloso ao pisar onde passam patos e marrecos, seus vizinhos de charco.

Diferentemente dos baianos, o Jaburu descansa em pé, elegantemente, parado em cima de uma perna só. Também gosta de tomar banho de sol com as asas abertas, se esquentando e secando suas penas, que ninguém é de ferro.

É um pássaro fiel, mantendo a mesma parceira a vida toda. O casal muda muito, mas costuma voltar todos os anos para o mesmo ninho.

Sendo  um  pai muito dedicado,  ajuda a fêmea a chocar os ovos e cuidar dos filhotes. Deve ser um dom de família, já que é primo da cegonha.

domingo, 8 de março de 2009

Pra mulher da minha vida

Tapeçaria (Irene Cavalli, 1978 - Rio de Janeiro)

Reafirmando

(um amor de muitos anos) 

Pra Irene

Rearranjo os versos

Redigito as prosas

Reimprimo as laudas

Repasso os textos

                        Pra te motivar         

Releio os contos

Retoco as imagens

Relembro as canções

Recito os versos

                        Pra te agradar

Remodelo os cômodos

Recombino as peças

Reorganizo os móveis

Reverdeço as áreas

                        Pra te acomodar

Recupero as vias

Reformulo os trechos

Reassento os trilhos

Remanejo as rotas

                        Pra te facilitar

Redefino as metas

Reestruturo as obras

Restabeleço as ordens

Revalido as promessas

                      Pra te acompanhar

Revisito os sótãos

Reviro as gavetas

Removo os entulhos

Rebusco os átrios

                        Pra te procurar

Renovo os votos

Revejo as crenças

Recrio os ícones

Reelejo os mitos

                          Pra te apaziguar                       

Reenvio as cartas

Reconsidero os ditos

Retiro os fechos

Reconduzo os sonhos

                        Pra te alcançar 

Recarrego as armas

Recomponho as hostes

Reconto as perdas

Retomo as lutas

                        Pra te honrar

Reformo as tendas

Reabro as cortinas

Reponho os incensos

Refaço as camas

                        Pra te amar...

antoniocarloscavalli

outubro/2002

 

sábado, 7 de março de 2009

Teleprompter versus Bate-pronto


Teleprompters de Obama

Definição de Teleprompter:

“As pessoas que trabalham frente às câmeras de TV utilizam diferentes tipos de prompters para auxiliar a leitura de seus textos. A maioria dos prompters (também conhecidos como teleprompters devido ao fabricante original) apresentam na frente da câmera uma imagem dos textos refletidos em um espelho. Quando o apresentador está lendo no espelho no prompter temos a impressão de que ele está olhando diretamente para a lente da câmera e conseqüentemente para a audiência”.

Tais recursos são muito utilizados por oradores e políticos do mundo todo, pela praticidade, comodidade e postura ao discursar. O Presidente Obama usa sempre um par deles, com grande desenvoltura, em praticamente todas as suas falas oficiais. Colocados em ambos os lados do parlatório, permite uma movimentação constante e harmoniosa da cabeça, dando a impressão que se dirige para todos os assistentes do auditório. Tem grande efeito de comunicação.

Acrescente-se ainda o fato de que o pronunciamento é sempre escrito, o que evita as gafes, gaguejos, imprecisões, vícios de linguagem, gírias, cacoetes, opiniões pessoais, etc. atendo-se exclusivamente ao teor da mensagem a ser divulgada pela autoridade máxima da nação.

Definição de Bate-pronto:

Pontapé aplicado imediatamente após o momento em que a bola ricocheteia no chão (qualquer que seja o jogo ou esporte). / Resposta brilhante a uma pergunta malévola”. 

Diferentemente do Obama que, além de só falar de forma oficial, já que é o presidente do povo americano mesmo nos dias de folga, evitando os improvisos e lugares impróprios para se expressar frente às câmeras, outros mandatários primam pelo improviso, por falar tudo e a qualquer hora, sem uma consulta mais acurada a seus inúmeros, competentes e bem pagos assessores.

Assim, de bate-pronto, se achando altamente espirituosos, falam o que lhes vem na telha, como um cidadão comum, despretensiosamente. 

Felizmente tem sempre um rei para mandá-los calar; ou um arcebispo para sugerir-lhes informar-se melhor sobre o assunto em pauta...

 

sexta-feira, 6 de março de 2009

Bateu, levou: o retorno

 Caras pintadas (1992)

Coisa impressionante. 
Não fosse pelo grisalho do cabelo, poder-se-ia jurar que a TV mostrava um video da década de 90. 
No meio da tela, a figura inconfundível, o porte marcial, o peito estufado, a nariz arrebitado, a imponência, o olhar superior, o sorriso da vitória. À volta, os apaniguados, os "correligionários" sorridentes, todos um passo atrás do grande chefe, em alegre entourage
 "Elle" voltou !
Sintomaticamente, na primeira manifestação aos repórteres, nas primeiras palavras,  a réplica incisiva à crítica feita por um concorrente contra a forma "espúria" utilizada no processo que o levou à vitória. 
Bateu, levou. 
Nada mudou, o lobo estava só vestido com pele de cordeiro. "Elle"tem o poder de novo nas mãos, por artimanhas políticas do amigão do peito, velha raposa alagoana.
Vamos ter que engulí-lo.  De novo ???? 


terça-feira, 3 de março de 2009

Divagando

Essa foi minha primeira poesia. O auge da juventude, os anseios, os sonhos, os questionamentos, a rebeldia. Um jovem do seu tempo: os fantásticos anos 60. Quem viveu, viu....
Recordo-a aqui em homenagm a duas pessoas que gostaram dela: Joaquim Teófilo Sobrinho, que a publicou no nosso jornal acadêmico em 1962, e Agenor Spallini Ferraz, que a sabe de cor e ainda guarda uma cópia manuscrita com a dedicatória "do irmão, Cavalli"


Águas de São Pedro (Luis Felipe Cavalli, 2007)

                 Quero sentir na face

                A brisa fresca

                Da madrugada...

Quero, a cada passo,

Ver surgir-me, à frente,

Um camarada...

                Quero que o mundo

                Inteiro me olhe, mas,

                Não diga nada...

Quero encontrar um amor

Em minha longa,

Solitária caminhada...

                Quero sair pelo espaço,

                Roubar uma estrela

                E voltar triunfante

                Da minha jornada...

Quero uma rosa vermelha,

Uma onda do mar...

Bastante ternura

Numa pessoa amada...

                Quero viver enquanto jovem,

                Morrer ao iniciar do crepúsculo,

                Libertar-me do tédio

                Para não sentir o Nada...

 antoniocarloscavalli

maio/1962

Amigos, sempre.

Zanin e Aldo (1963)

Em 1964, um grande amigo e colega de escola (Aldo Polles) veio a falecer de forma trágica, em um acidente besta, como são todos os acidentes. Naquela época, com vinte e poucos anos, a primeira morte de um amigo nos abalou profundamente e deixou marcas indeléveis em todos nós.

Na página de nossa turma da ESALQ, um dos amigos mais chegados (Antonio Celso Wagner Zanin) prestou uma homenagem singela ao colega morto e ilustrou o texto com uma foto de ambos. (http://www.f66.esalq.nom.br/aldo.htm)

Eis que, alguns dias atrás, foi a vez do amigo Zanin nos deixar, vencido por insidiosa doença. Foi reunir-se aos seus entes queridos, ao filho Guilherme, e aos amigos do peito que já se foram, como o Aldo.

Esse pensamento me conforta. Assim, a vida faz sentido.

Há uma aura de eternidade nessa foto. Tudo passou e tudo permanece igual em nossos corações. Amigos são para sempre, mesmo...

segunda-feira, 2 de março de 2009

O portal de Traipu


O "Fantástico", apresentado neste domingo (01/03/09) trouxe à tona um assunto que já não estava mais em moda: os excluídos. Foi bom, as pessoas voltaram a "se tocar" que eles ainda existem aqui mesmo no Patropi.
Dentre as quatro cidades, tristes campeãs de menor IDH do país, a pequena Traipu, lá nas Alagoas, tem algo a se orgulhar: o seu novo Portal de entrada da cidade.


Não importa que, logo após transpô-lo, os visitantes vejam apenas ruas "de barro" e casas humílimas, abrigando a extrema pobreza dos sofridos moradores.

Tais estruturas são vistas em muitos municípios brasileiros e, parece, são fruto de programa governamental de incentivo ao turismo, ou algo equivalente. Repassa-se uma verba federal para uso exclusivo na construção dos tais portais. Então é isso que se vê, uma estrutura absolutamente desnecessária, incompatível com a dura realidade do município que pretende incentivar....

domingo, 1 de março de 2009

Vislumbres

Óleo sobre tela. Lourdes A. Fascio

            I

Tem sido assim,

desde os remotos tempos de infância.

Costumavam brincar comigo,

como avós brincam com netos pequenos.

Serenos e vigilantes, eram

apenas diáfanas figuras que nunca toquei.

Velavam por mim, protocolares e eficientes,

guardando-me dos perigos e quedas...

            II

Afastaram-se na adolescência,

deixando-me seguir todos os caminhos.

E tive medos e audácias... e cresci.

Vez que outra, apareciam, de relance:

no funeral de meu pai,

no discurso de formatura,

entre os padrinhos, no casamento,

no nascimento dos filhos,

na solidão das UTIs...

            III

Agora, depois de tantos anos,

de minha cadeira de balanço,

mirando ao longe as montanhas do Poente,

volto a vê-los com ternura

nas tardes frias e cinzentas deste inverno.

Sigo-os com os olhos envelhecidos

por longas distâncias no horizonte.

Como antigamente,

fascinam-me ainda em seu caminhar compassado,

esquálidos espectros, sorumbáticos e silentes.

Retirantes de mim,

em eterno êxodo para insondáveis umbrais...

 

antoniocarloscavalli

janeiro/2004